Investimentos em tecnologia para a gestão de cidades não são mais uma tendência, mas uma necessidade. O recente reconhecimento de Curitiba pela MIT Technology Review como uma cidade inteligente e a nova parceria do Governo do Paraná para otimizar o transporte com inteligência artificial são provas disso. Esses movimentos de alto nível refletem uma certeza global: a gestão de uma cidade moderna depende cada vez mais de uma matéria-prima essencial: os dados. E poucos sistemas são tão complexos e geram tantos dados quanto o transporte público.
A gestão de um contrato de transporte público lida com um equilíbrio delicado entre o poder público, as empresas operadoras e os milhões de cidadãos que utilizam o serviço. Manter esse equilíbrio é um desafio constante, principalmente em duas frentes: a financeira, sujeita a custos imprevisíveis como a alta do combustível, e a operacional, que exige a fiscalização de milhares de viagens diárias. Tomar decisões estratégicas nesse cenário, sem uma base sólida de evidências, é um processo de alto risco e baixa eficiência.
A ciência de dados fundamenta a tomada de decisão estratégica. Suas aplicações práticas no setor de transporte vão desde o planejamento de horários e a manutenção preditiva de veículos até a análise da demanda de passageiros para otimizar a frequência das linhas. De forma geral, a área permite substituir a incerteza por projeções quantificáveis, transformando a gestão reativa em uma administração que pode simular o impacto de suas decisões antes mesmo de tomá-las.
Para chegar a esse nível de clareza, o primeiro passo é reconhecer que os dados do mundo real são imperfeitos. Sinais de GPS podem falhar e registros podem conter erros. Por isso, uma parte crucial do trabalho consiste em limpar e validar essa imensa quantidade de informação, garantindo sua confiabilidade. Com uma base de dados robusta, construímos modelos que “aprendem” com o comportamento histórico do sistema. Isso nos permite, por exemplo, criar simuladores financeiros para responder com precisão a perguntas como: “Qual será o impacto real na tarifa se a demanda de passageiros cair 5%?”. As respostas, baseadas em dados, tornam as negociações contratuais mais justas e transparentes.
Da mesma forma, os dados de GPS de toda a frota se tornam a base para uma auditoria contínua e em larga escala. A tecnologia cruza o que foi planejado no contrato – rotas, horários e número de viagens – com o que foi efetivamente executado nas ruas.
O objetivo não é apenas apontar falhas, mas criar um sistema de responsabilidade. A análise de dados garante que o serviço pago pelo cidadão seja o serviço entregue, e que as empresas sejam remuneradas de forma justa pela performance que de fato realizaram.
A capacidade de governar o transporte público com base em dados, portanto, não é uma visão de futuro, mas uma disciplina técnica com impactos já mensuráveis. Olhando à frente, a evolução da área aponta para desafios ainda mais concretos. O próximo passo envolve o desenvolvimento de modelos que realizem predições conjuntas, analisando simultaneamente a demanda de passageiros e os fluxos de tráfego. Além disso, um foco crescente está na interpretabilidade dos algoritmos, garantindo que as decisões automatizadas possam ser explicadas e auditadas por gestores públicos. A consolidação dessas frentes tecnológicas será o que, de fato, permitirá a criação de um sistema de transporte unificado que não seja apenas inteligente, mas comprovadamente mais eficiente e equitativo para a população.
Referências
Artigos Científicos
Keller, C., Glück, F., Gerlach, C. F., & Schlegel, T. (2022). Investigating the Potential of Data Science Methods for Sustainable Public Transport. Sustainability, 14(7), 4211. Disponível em: https://doi.org/10.3390/su14074211
Yuan, H., & Li, G. (2021). A Survey of Traffic Prediction: from Spatio-Temporal Data to Intelligent Transportation. Data Science and Engineering, 6, 63–85. Disponível em: https://doi.org/10.1007/s41019-020-00151-z
Notícias
Prefeitura de Curitiba. (2025). Curitiba é destaque na edição da MIT Technology Review dedicada a cidades inteligentes. Acessado em 9 de outubro de 2025, de https://www.curitiba.pr.gov.br/noticias/curitiba-e-destaque-na-edicao-da-mit-technology-review-dedicada-a-cidades-inteligentes/77663
Banda B. (2025). Inteligência artificial da Arábia Saudita vai otimizar o transporte no Paraná. Acessado em 9 de outubro de 2025, de https://www.bandab.com.br/politica/inteligencia-artificial-arabia-saudita-transporte-parana/
